É interessante observar como nós respondemos as pressões sociais. Desde pequenos tomamos decisões influenciados pelo grupo ao qual pertencemos. O que pouca gente sabe é que isso tem um custo, para o indivíduo e para a sociedade. No artigo How does peer pressure affect educational investments?, Leonardo Bursztyn e Robert Jensen buscam explicar como a pressão social faz com que alunos deixem de fazer um curso preparatório para o SAT, um vestibular utilizado nos EUA.
A história é basicamente a seguinte: temos quatro escolas com baixo desempenho e alunos pertencentes às classes sociais mais baixas e um curso preparatório para o vestibular, gratuito, é oferecido a estes alunos. Pela lógica, esses alunos teriam um ganho maior ao aceitar o curso. Porém, todos sabemos que o nerd não é o popular na maioria dos grupos, nem mesmo nesses tempos em que o estilo geek está fazendo sucesso. Sendo assim, qual a reação dos alunos ao receberem a oferta do curso gratuito?
Uma breve descrição do experimento
O estudo foi conduzido em 4 escolas de Los Angeles, de baixo desempenho e alunos de baixa renda. Foi ofertado um curso gratuito preparatório online para o vestibular e de uma instituição conhecida. Nos EUA, eles possuem as Honor Classes: aulas em que os estudos são mais intensos e avançados; e Non-Honor Classes – aulas regulares.Os alunos podem se inscrever em até 4 honor classes. Essa divisão é interessante, pois um aluno de uma sala com pessoas mais interessadas em estudar, provavelmente vai ter menor pressão social para estudar pouco. Na verdade, é provável que a pressão de um aluno na honor class seja para estudar mais. A relação entre popularidade e estudos é diferente nas duas turmas.
Cada aluno recebia um formulário para preencher e dizer se gostaria ou não de participar do curso, porém, este formulário não era idêntico para cada aluno. Dois formulários foram distribuídos: um deles dizia que a participação no curso não seria divulgada para nenhum aluno do colégio, incluindo os alunos daquela mesma sala; o outro dizia que a participação não seria divulgada aos outros alunos do colégio, com exceção aos daquela mesma turma. Ou seja, parte dos alunos recebeu um formulários que o deixava totalmente isento de qualquer julgamento de qualquer pessoa, se ele quisesse aderir ou não ao curso, ninguém saberia. Já a outra parte, acreditava que teria seu nome divulgado aos seus colegas de classe. Se as pessoas dessa segunda parte realmente se importarem com o que seus amigos pensam, elas iriam alterar suas respostas em função do que o grupo espera
O resultado
Resumindo (bastante!) o resultado do experimento, a conclusão foi que os alunos tomam decisões com base nas pressões sociais. Enquanto nas non-honor classes os alunos o número de inscritos para o curso foi 11% mais baixo quando a decisão foi pública, ao passo que nas honor classes não houve diferença significativa entre o número de inscritos quando a decisão era pública contra a decisão privada.
Além disso, os alunos também receberam formulários questionando o quão importante era ser popular. Os que disseram que a popularidade era importante, nas honor-classes, eram menos propensos a se inscreverem no curso quando a tomada de decisão era pública, enquanto os que não ligavam para popularidade não apresentavam diferenças significativas. Já nas honor-classes, alunos que viam a popularidade como sendo importante, eram mais propensos a se inscreverem nos cursos. O que corrobora com os resultados, a diferença é que em uma sala só com alunos que buscavam aulas mais intensas, o “ser popular” era visto como estudar mais, ou talvez ter notas melhores.
Por que esses estudos (e obviamente a econometria) são importantes?
A economia estuda como alocar da melhor forma possível os recursos escassos. É, para mim, uma das disciplinas mais nobres que existe por isso. Para saber como alocar melhor nossos recursos, precisamos entender quais políticas são eficientes e o que afeta os resultados de determinadas ações dado o comportamento dos indivíduos. Não temos recursos infinitos para educação, não há infinitos prédios para todas as atividades que todos pensam em incluir na rotina dos alunos, não há infinitos bons professores para ensinar e, isso pode surpreender as pessoas, não há dinheiro infinito para se gastar. Dito isto, não basta você entrar em uma discussão e dizer para sair gastando com educação, é preciso encontrar as políticas mais eficientes e com maior retorno também.
Devemos, por exemplo, ter escolas em período integral?
O discurso que eu ouço é de todo mundo é que devemos ter. O que eu acredito é que ninguém tem muita noção do quanto vai aumentar de gastos em comparação com o que trás de retorno. Não é simples assim. Pode ser que melhore mesmo o desempenho, mas a pergunta é: a que custo?
Se for a qualquer custo, se a gente tem dinheiro infinito para gastar sem causar nenhum problema, então basta pagar algumas aulas extras particulares para todos os alunos e aí está tudo resolvido, o resultado nas notas provavelmente será melhor, o aluno continua na escola e fim de papo. Este é apenas um exemplo, não é minha opinião a respeito de ensino integral.
E sobram perguntas para respondermos: Devemos dar aulas de informática? Os alunos ganharem tablet vai ajudar no desempenho? Reduzir o tamanho das turmas seria uma medida eficiente? Como remunerar os professores? Bônus funcionam? Como atividades extracurriculares afetam o desempenho do aluno?
Essas são algumas das perguntas que a econometria te ajuda e responder. Por isso convido todos a estudarem a disciplina! It’s fun!
Spoiler alert: Os resultados das pesquisas sérias feitas a respeito de ensino integral que eu conheço não chegaram a um consenso. Alguns concluem que o retorno é positivo, outros não.
PS.: Faltou ir mais além nas técnicas utilizadas nesse artigo. Uma parte delas já expliquei, outras vou explicar no futuro, e assim crio os links entre elas e o artigo!